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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Capoeira representa a cultura de Salvador

Reinaldo Oliveira
reinaldopop@gmail.com


Com um gingado musicado ao som do berimbau, agogô, atabaques entre outros o capoeirista dá um tradicional aú (movimento em que o mesmo se equilibra com as duas mãos ao solo e as pernas para o alto) e cai com os pés ao chão. Cenas como estas são comuns em Salvador. Presente em vários bairros da cidade as rodas de capoeira integram o conjunto cultural da cidade. Com o poder de atribuir valores ao soteropolitano, os grupos também servem como meio de socialização.
“A capoeira me envolve e faz com que eu me relacione com os outros através do gingado, da musicalidade e da finalidade”, afirma o agente de saúde Jaime Bispo, 22 anos. Conhecido na capoeira como Baraúna. Bispo pratica capoeira desde os 10.
Apesar de fazer parte do processo cultural de Salvador, a capoeira não recebe a atenção que é dada aos outros produtos culturais como o teatro, a dança e a música.
“Infelizmente não recebemos o apoio necessário por parte do Estado, embora estejamos presente nos cartões postais da Bahia”, salienta Bispo.
Durante o século XVI, Portugal enviou escravos da África Ocidental para a América do Sul. O Brasil foi o maior receptor da migração de escravos que trouxeram consigo suas tradições culturais e a religião. A capoeira era utilizada pelos escravos do Brasil como forma de resistir aos opressores e transmitir sua cultura.
A capoeira é vista na sociedade como um esporte violento, mas para quem pratica é mais do que um esporte, ela é uma arte que está presente em palcos como o do Solar do Unhão, Teatro Sesc- Senac entre outros.“Como toda arte ela transforma e edifica. Porém, serve também como instrumento de defesa e, serviu muito durante a Guerra do Paraguai embora muitos historiadores não a citem desta forma”, aponta o estudante e capoeirista de 12 anos, Mateus Gomes.
Dentre os capoeiristas existe uma vasta linguagem bem distinta com seus reais significados. “No nosso meio usamos muitas palavras que nos representam e indicam alguma situação, sou chamado de carrapeta que significa pequeno, esperto e audacioso”, declara Gomes.

História da capoeira

Não há um consenso quanto à origem da capoeira. Alguns historiadores a defendem sendo de origem africana, outros afirmam que é uma manifestação cultural brasileira e vários estudos são realizados em torno do tema. Dá-se o nome de Capoeira, a um jogo de destreza que tem suas origens "remotas" em Angola. Antes, era uma forma de luta muito valiosa na defesa da liberdade do negro liberto, mas tanto a repressão pessoal quanto às novas condições sociais fizeram com que após cem anos, se tornasse finalmente um jogo, uma ‘vadiação’ entre amigos. Com esse caráter inocente, a capoeira permanece em todos os estados do Brasil.
Presente, hoje na vida comum da cidade, não se pode determinar a data precisa do seu surgimento. “Há registros da capoeira nos séculos XVIII e XIX nas cidades do Rio de Janeiro, Recife e Salvador, porém durante anos a capoeira foi considerada subversiva, sua prática era proibida e duramente reprimida”, declara o capoeirista Fábio Paixão, 18 anos.
Devido à repressão, a capoeira praticamente se extinguiu no Rio de Janeiro onde os grupos eram conhecidos como maltas e em Recife, onde segundo alguns, a capoeira deu origem à dança do frevo. Em Salvador, a resistência foi maior. Em 1932, Mestre Bimba fundou a primeira academia de capoeira no Brasil em Salvador e acrescentou movimentos de artes marciais, o que daria nome ao estilo Capoeira Regional.
Em contrapartida, Mestre Pastinha pregava a tradição da capoeira como um jogo matreiro, de disfarce e que ficou conhecido como Capoeira Angola.
Da rivalidade desses dois mestres, a capoeira deixou de ser marginalizada e se espalha da Bahia para outros estados.
“Bimba e Pastinha contribuíram decisivamente para a valorização da capoeira; hoje a vemos de uma forma legalizada e bem gostosa. Rio Vermelho, Mercado Modelo e Itapuã, por exemplo, são grandes pontos de concentração de capoeiristas” conclui Bispo.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Saramandaia resiste ao preconceito

Reinaldo Oliveira
reinaldopop@gmail.com


Com a ajuda de artistas populares como compositores, atores e cantores; os moradores de Saramandaia se unem para tentar quebrar a imagem de um dos bairros mais violentos de Salvador. Localizada nas proximidades de um centro comercial e econômico (Iguatemi, G Barbosa e rodoviária), Saramandaia apresenta um grande contraste social: o cenário de pobreza, desemprego e subemprego dão margens a violência e a marginalização do bairro que já liderou os índices de violência de salvador ao lado de Nordeste de Amaralina.
A forma encontrada para combater este preconceito foi utilizar a arte e a educação como proposta de mudança deste cenário atual. Como exemplo de ações desenvolvidas por esta comunidade neste âmbito, podemos citar o GARRA (Grupo Alternativo de Referência Renascer com Arte) referência na comunidade por ter sido o idealizador da caminhada da consciência negra em Saramandaia. “Fiquei chateado com um taxista essa semana, ele disse que não entraria na Saramandaia que aqui o bicho pega”, desabafou o estudante de 19 anos Uelinton Bispo. Bispo é um dos coordenadores do GARRA e desenvolve ações de conscientização na comunidade. “A sociedade tem que entender que em todo lugar existe gente boa e ruim, mas infelizmente acabam generalizando e discriminando a todos”, relatou bispo ao ser indagado quanto à visibilidade do Bairro.
“Da mesma forma que tem violência aqui, em outros lugares também tem; inclusive nos bairros nobres. Ainda bem que aqui tem gente realizando trabalhos sociais que vêm dando resultado”, salienta o estudante Gilvan Andrade, 16 anos.
Por outro lado, ainda há quem ache que o trabalho está pouco. A arte-educadora Ivanilda Amado, 18 anos defende a união para o trabalho coletivo. “As instituições e os movimentos sociais daqui podem trabalhar mais unidos, o trabalho que está sendo realizado ainda é pequeno; temos grandes produtos culturais aqui, mas falta ação do Estado e apoio das iniciativas privadas”, declara Ivanilda.
O apoio de iniciativas privadas é um desejo da população que já tem parceria com a SINART (Sociedade Nacional de Apoio Rodoviário e Turístico) através da APMS (Associação de Pais e Mestres de Saramandaia). “Claro que queremos o apoio das empresas, porém temos que ficar com os olhos abertos; é evidente que as que estão ajudando têm interesses próprios: reduzir o índice de assaltos nas suas dependências, mas aqui também temos gente trabalhando poso citar o GARRA, a APMS, o projeto Arte Consciente e alguns moradores e, essas referências fazem o diferencial da comunidade”, critica Ivanilda.
Além do Garra outros nomes são citados como agentes de transformação. Arte Consciente, Banda Magia Baiana, o Grupo de Dança SMA (Saramandaia Mostra sua Arte), Capoeira Angola Palmares, a APMS e o grupo de teatro Negr@ Gat@ entre outros têm colaborado com a desmistificação da imagem do bairro e contribuído com o processo educacional aliado a lazer em outros espaços.
Com pouca estrutura de lazer e saneamento básico, o bairro está esquecido pelas autoridades. Várias ruas estão mal iluminadas e com o esgotamento sanitário precário.
A ociosidade acaba facilitando a entrada de vários jovens na criminalidade o que tem preocupado os moradores e tem incentivado o surgimento de movimentos sociais. O estudante e ator social Henrique Oliveira, 13 anos conseguiu se excluir deste ciclo vicioso, “através do grupo de teatro negr@ gat@ pude ocupar meu tempo vago e agora tenho uma opção de lazer, no dia 26 de fevereiro fiz uma das coisas que mais gosto: levar o nome de Saramandaia para outros espaços”. O grupo que Henrique faz parte foi convidado pela Secretaria de Educação de Serrinha para se apresentar na semana pedagógica do município.
A resistência de Saramandaia tem conquistado várias parcerias externas e está alcançando seus espaços. Esta foi a saída encontrada pela comunidade para ser inserida na sociedade como parte dela. Hoje, Saramandaia que já conta com rádio comunitária, lan houses e espaços para discussões culturais tem parceria com outros movimentos sociais que acabaram por formar uma rede onde há o intercâmbio artísitico-cultural e a discussão de políticas públicas e fortalecimento social.

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