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terça-feira, 4 de novembro de 2008

Saramandaia resiste ao preconceito

Reinaldo Oliveira
reinaldopop@gmail.com


Com a ajuda de artistas populares como compositores, atores e cantores; os moradores de Saramandaia se unem para tentar quebrar a imagem de um dos bairros mais violentos de Salvador. Localizada nas proximidades de um centro comercial e econômico (Iguatemi, G Barbosa e rodoviária), Saramandaia apresenta um grande contraste social: o cenário de pobreza, desemprego e subemprego dão margens a violência e a marginalização do bairro que já liderou os índices de violência de salvador ao lado de Nordeste de Amaralina.
A forma encontrada para combater este preconceito foi utilizar a arte e a educação como proposta de mudança deste cenário atual. Como exemplo de ações desenvolvidas por esta comunidade neste âmbito, podemos citar o GARRA (Grupo Alternativo de Referência Renascer com Arte) referência na comunidade por ter sido o idealizador da caminhada da consciência negra em Saramandaia. “Fiquei chateado com um taxista essa semana, ele disse que não entraria na Saramandaia que aqui o bicho pega”, desabafou o estudante de 19 anos Uelinton Bispo. Bispo é um dos coordenadores do GARRA e desenvolve ações de conscientização na comunidade. “A sociedade tem que entender que em todo lugar existe gente boa e ruim, mas infelizmente acabam generalizando e discriminando a todos”, relatou bispo ao ser indagado quanto à visibilidade do Bairro.
“Da mesma forma que tem violência aqui, em outros lugares também tem; inclusive nos bairros nobres. Ainda bem que aqui tem gente realizando trabalhos sociais que vêm dando resultado”, salienta o estudante Gilvan Andrade, 16 anos.
Por outro lado, ainda há quem ache que o trabalho está pouco. A arte-educadora Ivanilda Amado, 18 anos defende a união para o trabalho coletivo. “As instituições e os movimentos sociais daqui podem trabalhar mais unidos, o trabalho que está sendo realizado ainda é pequeno; temos grandes produtos culturais aqui, mas falta ação do Estado e apoio das iniciativas privadas”, declara Ivanilda.
O apoio de iniciativas privadas é um desejo da população que já tem parceria com a SINART (Sociedade Nacional de Apoio Rodoviário e Turístico) através da APMS (Associação de Pais e Mestres de Saramandaia). “Claro que queremos o apoio das empresas, porém temos que ficar com os olhos abertos; é evidente que as que estão ajudando têm interesses próprios: reduzir o índice de assaltos nas suas dependências, mas aqui também temos gente trabalhando poso citar o GARRA, a APMS, o projeto Arte Consciente e alguns moradores e, essas referências fazem o diferencial da comunidade”, critica Ivanilda.
Além do Garra outros nomes são citados como agentes de transformação. Arte Consciente, Banda Magia Baiana, o Grupo de Dança SMA (Saramandaia Mostra sua Arte), Capoeira Angola Palmares, a APMS e o grupo de teatro Negr@ Gat@ entre outros têm colaborado com a desmistificação da imagem do bairro e contribuído com o processo educacional aliado a lazer em outros espaços.
Com pouca estrutura de lazer e saneamento básico, o bairro está esquecido pelas autoridades. Várias ruas estão mal iluminadas e com o esgotamento sanitário precário.
A ociosidade acaba facilitando a entrada de vários jovens na criminalidade o que tem preocupado os moradores e tem incentivado o surgimento de movimentos sociais. O estudante e ator social Henrique Oliveira, 13 anos conseguiu se excluir deste ciclo vicioso, “através do grupo de teatro negr@ gat@ pude ocupar meu tempo vago e agora tenho uma opção de lazer, no dia 26 de fevereiro fiz uma das coisas que mais gosto: levar o nome de Saramandaia para outros espaços”. O grupo que Henrique faz parte foi convidado pela Secretaria de Educação de Serrinha para se apresentar na semana pedagógica do município.
A resistência de Saramandaia tem conquistado várias parcerias externas e está alcançando seus espaços. Esta foi a saída encontrada pela comunidade para ser inserida na sociedade como parte dela. Hoje, Saramandaia que já conta com rádio comunitária, lan houses e espaços para discussões culturais tem parceria com outros movimentos sociais que acabaram por formar uma rede onde há o intercâmbio artísitico-cultural e a discussão de políticas públicas e fortalecimento social.

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