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sexta-feira, 30 de abril de 2010

Conectando...

Conectando...
Até que ponto o celular agrega valor e representa status social


Reinaldo Oliveira
reinaldopop@gmail.com

Estar na moda e apresentar um status social. Estes foram os motivos que levaram a estudante Ana Cláudia Santos a comprar o LG Chocolight. Design moderno e sofisticação foram os dois pontos que mais chamaram a atenção dos jovens ao se bater com o “chocolate”, modo como ficou conhecido.Com Cláudia, não foi diferente. Ao ser lançado, virou objeto de desejo da estudante. Mas, a falta de dinheiro a impossibilitava de possuir o tão moderno celular.

Para a felicidade de Cláudia, foi chamada pra um trabalho temporário no são joão de 2008.Alegre com a possibilidade de conseguir uma grana trabalhou o mês todo e, enfim comprou o tão esperado celular.Com posse dele, foi vista de outra forma pela maioria dos colegas.

“Ah! Eu era vista como uma pessoa bem importante. Tive mais status quando passei a usar ele. Na verdade eu já tinha outro, mas era tijolão. Com o chocolight era outra coisa. Só em funcionar através de um leve toque no aparelho eu já era olhada pelas pessoas com mais respaldo e hoje em dia você é visto pelo que você tem”.

A tia de Cláudia, estimulada pelos elogios que a sobrinha recebia decidiu comprar um aparelho igual. Mas, este status não custou tão barato para a estudante. A mesma teve que abrir mão de comprar várias outras coisas e usou todo o salário para comprar o celular. E, não usava em todos os lugares.“Na verdade eu não o usava em buzú nunca. Tinha medo de assalto. Abri mão de comprar roupas, outros aparelhos e outras coisas mais importantes. Mas, eu queria aquele celular, pois ele estava na moda”.

A estudante que tem as despesas custeadas pelos pais recebeu R$ 400,00 no emprego temporário. Empolgada com o aparelho que lhe despertou bastante interesse, decidiu comprar o celular à vista mesmo sabendo que no mês seguinte não teria trabalho. O valor investido na compra do celular está um pouco abaixo do salário mínimo nacional que atualmente é R$ 465,00.

O que Ana Cláudia não esperava era que o sonho durasse apenas o tempo de uma gestação: com nove meses de uso, a estudante teve o celular roubado numa festa de camisa colorida. E após o assalto se deu da conta que não era válido par ela sustentar este status social sem condições mínimas. Quando questionada se compraria um celular com as mesmas tecnologias ela não hesita e responde que de jeito nenhum. O assalto a desencorajou de ter aparelhos caros.

Quando rola o rolo

Reza a lenda que mulher não agüenta ver as coisas que quer comprar. No caso destes aparelhos, os homens também não resistem a este avanço tecnológico e acabam comprando bastante.

O taxista Fernando Soares Junior, é um exemplo deste público. Com uma renda de aproximadamente dois salários mínimos, Fernando que paga aluguel da casa e do táxi e arca com as despesas da esposa sempre acaba cedendo quando um celular vira seu objeto de consumo.
“Na verdade sempre acompanhei este avanço do celular. Toda vez que tem algum serviço ou funcionalidade nova eu quero experimentar”, declara Fernando.

Junior, já perdeu a conta de quantos celulares trocou ao longo dos 28 anos de vida. Lembra-se que já teve aparelho de todas as marcas e operadoras. Quando perguntado como consegue trocar de aparelho numa média de no máximo cinco meses, explica que sempre rola o rolo.

“Tive um W580 que foi um rolo que fiz com um cliente. Ele estava me devendo de corridas e não tinha como pagar. Acabou me oferecendo o celular que tem uma ótima câmera, acabei aceitando”.

De janeiro até setembro deste ano, trocou de celular três vezes. Vendeu o W580, comprou outro com tecnologia touchscreen, fez rolo com um som, trocou por outro celular e assim o rolo vai acontecendo. Em agosto fez rolo com um celular e uma quantia em dinheiro e, trocou por um celular MP10. Após usar o celular por um mês, já tenta fazer outro rolo.

O MP10 é um aparelho multiuso que agrega várias tecnologias. Suporta dois chips ao mesmo tempo, duas câmeras de alta resolução, tecnologia bluetooth e televisão. Custa em média de 500,00 a 600,00 reais a depender da resolução da câmera e marca.

Outra forma destes aparelhos chegarem até os menos favorecidos é através da prática ilícita. Em conversa informal com moradores de algumas periferias de Salvador, fui informado que muitas vezes este celular é encontrado por uma bagatela.

Quando perguntei da origem dos aparelhos algumas pessoas tiveram receio de falar, mas, outras informaram que era furto e roubo na grande maioria das vezes cometido por usuários de drogas. Duas das fontes se arriscou a falar que tem viciado que rouba celular com estes recursos e troca por drogas.


Por que querer o melhor?

Por que querer este celular que tem estas tecnologias e não o simples? Será que preciso mesmo deste celular mais caro ou isso é uma estratégia do mercado?

Enquanto uma parte da sociedade desperta o desejo pelo consumo de celular de ponta, outros criticam alegando que esta necessidade por um celular com mais tecnologia é criada pelo mercado de trabalho.

Ao contrário do que muitos pensam, a sociedade dita que você é aquilo que você tem. Este status social pode ser percebido também em outros produtos da sociedade consumista. De um modo geral você é o que come, veste, calça, (...). O valor do ser humano está cada vez mais agregado aos produtos que consome.

Um pouco de história

Pela história oficial, o primeiro celular foi utilizado no dia 03 de abril de 1973. O responsável pela utilização foi Martin Cooper, pesquisador da motorola que ligou para um telefone fixo em Nova Iorque, Estados Unidos. O primeiro aparelho pesava cerca de um quilo e media 25 centímetros de comprimento e 7 de largura e bateria durava no máximo vinte minutos.

Mas esta utilização primária era apenas um avanço da tecnologia, pois o celular passaria a ser comercializado dez anos após, em 1983.Desenvolvido pela própria motorola o Dynatac 8000 custava cerca de quatro mil dólares.

No Brasil, o celular passou a ser comercializado oficialmente no Rio de Janeiro em 1990. O valor da habilitação era vinte e dois mil dólares, um tanto absurdo para a realidade de hoje. Mas, em 1998 com a modalidade pré-pago (pagamento antecipado) o celular foi mais popularizado no país.

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Cinegrafista: Eliana Sampaio

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