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terça-feira, 6 de julho de 2010

Eu quero ser é o encanto da festa...

Reinaldo Oliveira
reinaldopop@gmail.com


Na verdade eu sou o encanto da festa. Eu quero ser o encanto da festa e pronto. Esta é minha missão e estou ali para cumprir isso enquanto profissional. Desta forma que Scarleth Cabochat Sangalo se apresenta quando perguntada sobre quem ela é realmente.
Uma linda mulher alta, atraente e com pernas cobiçadas que há dez anos faz animação em aniversários e em casas de shows e boates de Salvador.

O que algumas pessoas não sabem é que por baixo dos adereços e figurino de Scarleth Sangalo, está o estudante Edson Cunha Junior, 26 anos que começou a atividade de ator transformista em 1999 numa brincadeira. “Comecei com uma brincadeira na escola. Na verdade eu queria mostrar a morte, e quis mostrar uma morte feminina, no corpo de uma mulher. Gostei da brincadeira e fui experimentando de lá até hoje”, afirmou Edson Junior.

Naquela brincadeira da escola, foi o momento de Scarleth surgir e se mostrar para o mundo. Por causa do preconceito que persiste até hoje, Edson teve que começar escondido da mãe e encarar os desafios, pois, naquele instante decidiu que queria se apresentar como drag queen para o resto da sua vida.

Preconceitos, boatos, intrigas, fofocas e inimizades. Todas essas palavras fazem parte do mundo artístico e do universo gay. “Quando comecei a fazer shows, sabia que ia encontrar tudo isso, mas não me abalei porque sou profissional. Hoje em dia tem muito gay que bota um vestido e uma peruca e acha que é artista”, afirma Scarleth.

Algumas pesquisas apontam que as drags queens são homens que se vestem de mulheres para saírem a noite e se divertirem apenas. Não pretendem a ser mulheres e independe da orientação sexual podendo ser homossexual, bissexual ou heterossexual. Com o passar do tempo, as pessoas começaram a perceber esta atividade como um meio de ganhar dinheiro.

Leandro Colling, orientador do grupo de pesquisa Cultura e Sexualidade da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom/Ufba), explica o surgimento da atividade no Brasil e faz uma relação com a movimentação econômica:

“O surgimento das drags, no final dos anos 80, em especial nos EUA, não estava ligado com a questão econômica e nem estava, necessariamente, ligado com a comunidade gay. E mais, para ser drag não é preciso ser gay. Surgiu como uma brincadeira de se fantasiar, de uma forma exagerada que não aspira ser igual a uma mulher. A drag não deseja esconder que seu corpo é de um homem. No Brasil e em outros países também, depois, ser drag passou a ser uma forma de ganhar um dinheiro, que, via de regra, não é muito não, em especial aqui na Bahia”.

Os shows de drag queens durante anos eram restritos aos espaços LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros). No entanto, artistas da área mostram que o mercado tem muito mais opção.

Scarlet Sangalo se apresenta sempre em espaços voltados para o público gay mas, afirma que também faz abertura de outros eventos, festas de noivados, aniversário, festa de amigos, casamentos e outras cerimônias.

Entre os muitos preconceitos associados às drag queens e aos artistas transformistas, está o mito de que todos são gays. Contudo André Luis Silva é um exemplo de que o preconceito resiste, mas, que os heterossexuais têm espaço no mercado. André é ator transformista há 25 anos mais Bagageryer Spielberg é mais conhecida que o ator que empresta o seu corpo a Baga (como é mais conhecida)

Quando questionado pelo preconceito, a resposta é direta: “Homem que se veste de mulher é bicha! Mas essa mistura show-woman & show-man do personagem que criei me proporciona o sexo dos anjos. Além disso, tenho o dom da palavra. Sempre consegui dominar a platéia com alegria e muito humor”.


Quanto ao cachê por essas apresentações, varia do espaço, do artista, do contratante, etc. Edson trabalhava numa loja e pagava as despesas dele, mas, hoje, a Scarleth banca a faculdade do futuro publicitário. Quando perguntado pelos rendimentos faz questão de falar que depende muito do show, se a pessoa é amiga, se está incluso o transporte mas está na média de R$150,00 por show.

Já Bagageryer, afirma que conseguiu realizar o sonho da casa própria com cachê da profissão que desenvolve desde 1985 e que embora não tenha patrocínio nenhum, o cachê dela varia entre cem e mil reais.

Embora algumas pesquisas indiquem que o fenômeno das “drags” surgiu nos grandes centros urbanos, como Londres e Nova Iorque, no final dos anos oitenta e que no Brasil, apareceu a partir de 1991, com o desenvolvimento da chamada “cultura club”, nas principais cidades do país, como São Paulo e Rio de Janeiro. O escritor e militante João Silvério Trevisan aponta em 200 que na década de 90 foi o período de maior visibilidade mais, consta registro desde a década de 70 em casos raros, como o da transformista Laura de Vison.

Enquanto Scarleth pensa em profissionalização, Colling comenta sobre as perspectivas da atividade como profissão: as perspectivas são boas em cidades com maior desenvolvimento econômico, com maior número de casas que contratam esses profissionais. Aqui na Bahia, penso eu, as perspectivas não são muito boas não.

SAIBA MAIS

DRAG QUEEN: homem que se transforma em drag ao usar roupas, maquiagens e adereços femininos, mas que não quer ser identificado como uma mulher. Expõe sua transformação ao público.


DRAG KING: mulher que se transforma em drag ao usar roupas, maquiagens e adereços masculinos, mas que não quer ser identificada como um homem;

A TRAVESTI: homem que possui uma identidade de gênero feminina e realiza transformações no seu corpo como interferências cirúrgicas no rosto, quadris e seios. Usa roupas, adereços e maquiagens femininas para ser identificada como mulher. Expõe sua transformação ao público. Sexualmente realiza-se com seus órgãos genitais.

O TRAVESTI: mulher que possui uma identidade de gênero masculina e realiza transformações cirúrgicas no seu corpo como retirada das mamas. Usa roupas, adereços e maquiagens masculinas para ser identificada como homem. Sexualmente realiza-se com seus órgãos genitais.

TRANSFORMISTA: homem ou mulher que pode ter qualquer orientação sexual, mas que se transforma, através das roupas, adereços e maquiagem para parecer uma pessoa do outro sexo para realizar apresentações (shows).

TRANSEXUAL: homem ou mulher que não se identifica com o sexo de nascimento e sim com o sexo oposto ao seu. Por não se identificar fisicamente realizam cirurgia para mudança de sexo.

CROSSDRESSER: homem ou mulher que se veste do sexo oposto ao seu para satisfazer os seus fetiches sexuais. Não são, necessariamente, homossexuais. Precisam que sua performance permaneça no âmbito privado, em segredo.

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